terça-feira, 26 de maio de 2015

ENTREVISTAS


A intimidade profissional de Pitty 

Cantora respondeu as perguntas do DIVIRTA-CE sobre seu novo DVD, "Pela Fresta", que mostra os bastidores de shows e gravações 

Após seis anos sem material inédito com sua banda, Pitty lançou seu novo álbum, “Setevidas” (Deck – 2014). Durante as gravações, feitas com todos os instrumentos tocados simultaneamente, foi produzido um documentário. Com grande parte filmada pela própria cantora, dirigido e editado por Otavio Sousa, o DVD leva o sugestivo nome “Pela Fresta” (Deck).
No filme estão nove das 10 faixas do álbum, executadas no estúdio Madeira (SP), onde foi gravado o disco, entre elas “Pouco”, “Serpente” e “Boca Aberta”. Ampliando as experimentações, em “Setevidas” Pitty e banda incorporaram sutilmente ritmos africanos, utilizando elementos típicos desse universo (instrumentos como agogô e caxixi) de uma forma diferente, que complementasse o rock da banda. O trabalho de voz, assim como coros e aberturas vocais, vão um pouco além do que apresentaram em “Chiaroscuro” e o som está ainda mais pesado.
As projeções que foram criadas para o novo show de Pitty são usadas no estúdio durante a execução das músicas, criando uma estética diferente daquela usualmente empregada nesse tipo de registro. O DVD também traz entrevistas com a cantora, banda e o produtor, Rafael Ramos. Fechando com chave de ouro, ainda estão nos extras do registro uma galeria de fotos inédita e os videoclipes de “Sete Vidas”, “Serpente” e o vídeo inédito da faixa “Um Leão”.
O DVD é uma ótima pedida para quem gosta de rock e, claro, àqueles que gostam de espiar “Pela Fresta”. Veja entrevista de Pitty com Divirta-CE:


DIVIRTA-CE- De quem foi a ideia de produzir um documentário sobre os bastidores das gravações e dos processoes de criação de sua música? Você filma algumas vezes no seu DVD e capta momentos muitos íntimos da sua banda. Você acha que é isso que "alimenta" ainda mais a admiração dos fãs pelo seu trabalho? A intimidade exposta te incomoda?
PITTY - 
A ideia na verdade veio depois da gravação, quando percebemos que o material que eu havia captado sem pretensão poderia render um bom documentário. E a ideia de compartilhar esses momentos mais íntimos vem justamente de uma visão particular minha como público: adoro quando posso me sentir no estúdio com bandas que eu gosto, por exemplo. Queria proporcionar isso às pessoas que curtem meu som. Nesse caso a intimidade não incomoda, porque é uma intimidade profissional, sobre a música, o disco.

DIVIRTA-CE- Você fala no DVD sobre o processo de criação da música "Sete Vidas", um dos seus maiores hits. Quais foram os maiores perigos que você passou com o sucesso e a fama, em seus shows, ou antes de tudo isso?
PITTY - 
Acho que todo mundo que entra nessa espiral de shows, luzes, holofotes, corre o risco de se perder. Porque é uma vida muito agitada e solitária ao mesmo tempo, você está sempre cercado de gente que, no fundo, só quer um pedaço de você e quando tudo acaba você está sozinho num quarto impessoal de hotel. E essa rotina de viagem, ônibus, avião, lugar do show, hotel - que é tudo o que você vê, na verdade- e ouvir as mesmas coisas repetidamente, são enlouquecedoras. Por isso que descobri que dar um tempo de vez em quando, como eu dei antes do "Setevidas", talvez seja o jeito de me manter sã. Sair da rotina, renovar a paciência e o amor pelas coisas ao redor. Cada um deve encontrar sua fórmula, por enquanto acho que a minha é essa.

DIVIRTA-CE- Você tem outras intenções de incursão em audiovisual....  fazer algo mais "cabeça", tipo um filme de ficção ou uma peça de teatro? Você dá opiniões ou já dirigiu algum clipe seu? Já teve algum convite para televisão ou outros trabalhos, como ser jurada de reality show ou apresentadora?
PITTY - Não tenho nenhum plano específico nesse sentido, mas estou aberta a experiências novas e desafios. Participei de todos os meus clipes, nuns mais, noutros menos; com roteiros, argumentos, ideias estéticas, etc.

DIVIRTA-CE- Você é politizada e tem opiniões fortes, de pensamento livre. Demonstrou isso em diversos programas de TV ou mesmo nos shows. O que você pensa da situação atual do Brasil e da política brasileira?
PITTY - 
Penso que estamos num momento delicado e de mudanças. Muito afrontamento e polarização irracional, que normalmente só empacam o processo democrático e o diálogo consistente. Me interessa o que podemos fazer para continuar caminhando com as pautas sociais e progressistas diante desse congresso extremamente conservador.

DIVIRTA-CE- O que menos gosta na música brasileira atualmente? E o que mais te chama atenção? Que definição você daria para o gosto do brasiliero.
PITTY -
 O que menos gosto é o de sempre: a falta de espaço para ritmos e estilos mais alternativos. Entendo que isso aconteça porque nossa cultura popular é muito forte, mas gostaria que essa divisão fosse mais igualitária. E o que mais me chama atenção é justamente o contraponto disso; tantas bandas e artistas que continuam na batalha por identificação e amor por um determinado estilo, independentemente do caminho fácil e das armadilhas das concessões. Acho que o gosto do brasileiro é eclético e muito ligado a coisas que falam diretamente do seu cotidiano, seja amoroso ou social.

DIVIRTA-CE - Foi lançado seu livro autobiográfico no ano passado, e um escritor alagoano criou uma ficção baseada na sua música. Com suas letras sendo essas obras de arte, tem pretensões literárias para lançar algum romance?
PITTY - 
(Risos) Obrigada pelo "obras de arte". Um dia, quem sabe, estamos aí na batalha. Mas não tenho pretensões literárias concretas. o que escrevo, escrevo porque preciso, porque me faz bem, é uma espécie de terapia. daí a achar que isso pode interessar a alguém... não sei, mesmo.

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